domingo, 24 de abril de 2011

Domingos


O personagem principal está praticamente pronto. Tem a mania de grandeza. Recebeu o nome de Domingos, mas na escola ganhou o apelido de Hercules, que acabou pegando justamente porque ele não gostava. A sorte foi que o apelido permaneceu só no período escolar, do segundo grau.
Já na adolescência, os amigos deram-lhe um novo apelido, que era o diminutivo do nome de batismo: Mingo. Perdera a mania de grandeza, mas tinha o espírito aventureiro e era namorador, põem não pensava em casar, talvez influenciado pelo dos pais que não dera certo e se separaram poucos anos depois que Domingos nasceu. Foi criado pela mãe, que acabou encontrando um novo amor. O pai que ele visitava a cada 15 dias, com quem passeava, morava na casa da mãe, que era viúva. 

Hildebrando Pafundi é escritor, jornalista, contista e cronista. Membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, da União Brasileira de Escritores (UBE-SP) e outras entidades. Tem quatro livros publicados. Contatos com o autor e colunista pelo e-mail: hpafundi@ig.com.br

ATIVIDADE 3

Boa leitura!
Flávio Mello
A atividade que segue foi imposta com a seguinte proposta fazer com que os alunos do curso, tirassem fotografias de lugares e modelos diferentes, algo que fosse relacionado ao cotidiano de cada um.
Feito isso os alunos deveriam tecer um texto, poético ou em prosa, não se apegando a gêneros ou a formas, mas sim ao conteúdo, que tivesse a imagem como cenário.
Recebi textos magníficos, na leitura perceberão, não posso falar de cada um, mesmo por que o objetivo dessas minhas intervenções é apenas, e tão somente, expor a ideia inicial, feito isso, boa leitura:

Janela


Leandro Ramires Rodrigues

Hoje penso que os dias também são dos outros. Fernando mora do outro lado da rua. A casa sempre está vazia, mas há muitas pessoas passando por aqueles quartos. Quando vim morar aqui do lado da Tabacaria; seu jeito esquisito de andar, vestido todo de preto, ainda mais com aquele chapéu, não ridículo somente para quem viveu um século antes, me chamaram atenção.
Alguns anos atrás, quando precisei de um correspondente comercial para os meus negócios em língua inglesa, acabei encontrando Fernando sentado em uma mesa no fundo de uma sala. Estava lendo um livro de poesia; acho que o poeta se chamava Alberto Caeiro, mas poderia ser Álvaro de Campos ou Ricardo Reis. Admito que na época sentira certo desassossego em não compreender o poeta. Não importa, ficamos amigos e conhecer Fernando foi quase como fazer amizade com uma multidão de pessoas. Ele me ofereceu um charuto cubano, comprado na mesma Tabacaria que eu era freguês. Ainda quando aquele lugar era aberto, antes da morte do Alves; certo dia sai de lá e como por instinto virei-me e olhei para cima, estava Fernando que da janela gritou “Adeus ó Esteves” Depois que eu acenara a ele.
Não há metafísica no adeus e após a morte do dono da tabacaria, aquela janela passou a abrir cada vez menos. Lembro-me que uma das últimas vezes em que estava aberta, lá permanecia, todo de preto com o mesmo chapéu, óculos redondos, atrás uma mesa simples com uma xícara de café e uma pasta onde não pude ver direito o título. A luz iluminava o quarto deixando uma tonalidade avermelhada àquela hora da manhã, imaginara.
Hoje não existe mais janela, o existir está na certeza de que tudo um dia morrerá. Mas, enquanto ainda não morreu a língua portuguesa pude descer as escadas e encontrar Fernando na frente do que era a Tabacaria – Realmente, só tem duas datas, a que nascemos e a que morremos. Desculpou-se da presa porque precisava trabalhar. Desculpou-se do humor porque o médico o havia proibido de beber. Desculpou-se da vida porque ninguém o havia entendido. Caminhou. Olhei a frente e a tabuleta onde era a tabacaria. Vende-se.

Ego


Leandro Ramires Rodrigues 

Caminhava e caminhava. Todo dia Andirá saia ao trabalho, ônibus cheio, trem lotado e continuava. Já fizera algum tempo que havia se perdido no devaneio. – Preciso ir embora logo. Imaginava-se no banho tão logo pudesse ouvir o sinal que marcava às cinco horas da tarde. A indústria, ele não mais sabia onde ficava. Nunca havia lhe passado na cabeça o rosto do dono. Era um vazio que só lhe mandava continuar. Tocou o sinal. Andirá se tivesse alguma coisa, guardaria no armário, mas naquele dia achou estranho em pensar ser pobre. Estava apenas com as roupas do corpo e alguns trocados na carteira.
Logo que começou a andar na rua; sentiu certo tremor acompanhado de uma incrível tremedeira – eu não bebo. Continuou descendo por aquela rua sem nome, aliás, imaginava que toda rua daria para algum lugar totalmente diferente e assim, fugiria daquele lugar. Não havia rotas alternativas e a rua dava para um muro branco e sem saída. No muro observava a paisagem de uma praia, surfistas crianças construindo seus castelos e muito sol. Andirá ficara ali parado e quando percebe estar atraindo olhares interrogativos ao seu redor, saiu. Na verdade, sentira medo de alguém chamar a polícia, mas isso tudo era uma besteira, imaginava a cena, mostrando o RG e afirmando o local onde trabalhava, era ali. Ali onde? Iria dizer o policial, ali é ali e só.

Andirá redobrou o passo, não queria que ninguém o parasse; sentiu-se estranho cada vez mais, pois não sabia onde estava o local de trabalho, o mesmo que ele havia deixado uma hora atrás. – Não tem importância. Sua mãe havia lhe ensinado a não confiar em ninguém. Evitar conversas com desconhecidos, por isso nunca conversava; houve um tempo que Andirá esquecera o som da própria voz. Então saiu gritando por entre as ruas, lembrando como deveria articular as palavras para continuar existindo. Só queria voltar para casa, sentiu um aberto no coração e lembrou a falecida mãe – Continue meu filho, nunca pare! Queria achar a casa onde tem um retrato da mãe, colocado sobre a estante e com a intenção de manter na memória o rosto materno. Andirá tremia ao imaginar que um dia passaria um fantasma e recolheria também os traços e a aparência da mãe. O fantasma existia sim, repetia consigo mesmo, o fantasma já levou a voz de minha mãe.

- Tudo isso é uma tremenda besteira! Ainda hoje levantei de uma cama quente e me vesti. Ônibus e trem cheios a mesma rotina do trabalho. Andirá alcança o ponto de ônibus sentindo que nunca havia estado naquele lugar. Caminhara muito antes de chegar ao muro e o muro só o vez voltar atrás, retroceder como tantos outros lugares. Precisava de um ponto. Era ali que tomaria o ônibus, naquele ponto, já que um ponto é sempre a partida para algum lugar e todos os lugares estão ligados entre si, pensara Andirá um dia ser de todos os lugares. Hoje estava tímido e por isso começara a imaginar que um ponto nem sempre é um ponto. Havia outro ponto de ônibus do outro lado da rua. Aquele o levaria para lugares opostos, como um dia outros o fizeram e mesmo assim continuou a existir. Também não queria voltar de trem, espaço que liga dois pontos opostos. Há muitas pessoas lá se empurrando na vida; Andirá quando era mais novo sentiu vontade de se jogar nos trilhos, abraçá-los, mas não fez porque percebeu que abraçar os trilhos seria o mesmo que estar acariciando as grades e seus braços não teriam força para romper esse cárcere. Ainda mais agora que ficara velho.

Parado observava o fluxo de pessoas entrando e descendo do ônibus; ninguém olhava para seu rosto, era um fantasma até notar que o mesmo acontecia com todos. Então sentiu vontade de rir, rir como nunca até arrebentar os pulmões e quando percebeu que de sua boca já saia os primeiros vestígios de uma boa risada. Ficou com medo, haveria de passar um guarda ou um alguém qualquer lhe dando uma bofetada no rosto e lhe dizendo na cara - Ficou louco, seu bosta! Merdinha do caralho que fica aí no meio atrapalhando a vida dos outros.

Os outros são sempre os outros e passara a vida se contendo para não prejudicar os outros. Agora queria saber quem era. Abre a carteira e busca por um RG, uma identificação qualquer, não havia nada além de uns poucos trocados, fruto do trabalho e um nome em um papel branco, Andirá. Colocou a carteira no bolso da calça e entrou no ônibus mais vazio. Estava cansado de lotação. Percebeu que o caminho era o oposto realizado no dia anterior, também não lembrava direito do dia anterior, só que havia trabalhado; produzido em uma máquina da qual ele deveria retornar amanhã e continuar assim até o dia de parar. Mas parar e ir para onde? –Hoje não vou conseguir voltar para casa, isso o aborrecia, já fazia alguns anos que não retornava para casa, salvo poucas exceções como ontem, antes de sair estava em casa. - Por que eu fui sair?

Desceu do ônibus, estava com sede e no primeiro bar que encontrou pediu uma coca cola. Foi atendido e ali ficou por mais um tempo. Sentiu fome, mas não queria gastar seu dinheiro honesto. Se abrigou em outro ponto de ônibus, talvez haja tempo de voltar atrás. Um carro para e um bando de moleques o agride. Andirá não entende o motivo de tantos chutes e socos, mas a dor que foi aumentando, agora diminui e por um momento pensou que aquelas pancadas fossem uma libertação maior. Fechou os olhos e esperou o golpe derradeiro, mas este não veio. Algum barulho lá do outro lado da estrada havia espantado os libertadores de sua sorte. A sura o deixara em péssimo estado; queria parar, mas não sabia como. Na calçada virou para o canto e dormiu pensando que amanhã precisava trabalhar. E lá no fundo ouviu o sussurro de sua mãe que dizia – Andirá você é meu filho, continue, continue...   

O lado de cá da história


Abro a porta do quarto e não consigo avançar dois passos. O chão está repleto de obstáculos. São sapatos, das mais variadas cores e modelos, que desgarrados de seus pares, transformam o chão num campo minado. Um passo desatento pode levar a uma torção no tornozelo ou mesmo a uma queda feia.
Com cuidado, vou passando por eles, tentando não tropeçar e chegar ilesa até a cama. Como se fosse possível identificá-la. Pilhas de roupas, cabides desocupados e acessórios descartados, recobrem o móvel e mal me deixam entrever a colcha com desenhos de flores azuis.
Somente por curiosidade, abro o guarda-roupa e vejo que está praticamente vazio, com exceção de umas poucas peças que foram desprezadas. Enquanto contemplo esse cenário caótico, sou tomada por uma repentina nostalgia, e penso:
“Tudo tão igual e ao mesmo tempo diferente”.
Resolvo pegar apenas a tolha molhada que disputa espaço entre as roupas amontoadas e vou até o banheiro. Quero acreditar que não é possível, mas o caos se instalou ali também. Sobre a pia, frascos e potes de cosméticos foram esquecidos abertos. O secador de cabelos ainda está na tomada e diversas escovas esperam para serem recolocadas em seus suportes. Balanço a cabeça, e consternada, apago a luz e vou para a sala.
Encontro uma princesa divinamente trajada e maquiada. A roupa está em harmonia com os sapatos e os brincos são o complemento perfeito. O rímel muito bem aplicado e o batom discreto reforçam sua beleza. Não há nada fora do lugar. Até mesmo a alegria e a expectativa que vejo em seus olhos, estão de acordo com a ocasião.
E eu penso:
“Tudo tão igual e ao mesmo tempo diferente.”
Antes de partir, ela me beija o rosto e eu recito todas as recomendações costumeiras, as quais ela ouve com um sorriso matreiro e a impaciência tão própria da juventude. Em seguida sai, deixando um rastro do seu perfume no ambiente.
Nesse momento, como já era previsto, o caos reaparece em cena e sem piedade, se aloja profundamente em mim. Sentimentos contraditórios agitam meu coração. A noite é perigosa. As armadilhas estão por toda a parte e se revelam sob diversas formas. As longas horas de espera serão um tormento. Tentando me confortar, digo a mim mesma para acreditar nos ensinamentos que lhe passei. Afinal, minha pequenina já não é mais tão pequena. Cresceu. Mas como aceitar isso, se quando olho em seu rosto, ainda visualizo aquela garotinha que erguia os braços me pedindo colo?
Para me acalmar, decido arrumar aquela bagunça que ficou esquecida no quarto e no banheiro, embora tenha jurado que não faria mais isso, e então, um pensamento se sobrepõe aos outros:
“Tudo tão igual e ao mesmo tempo muito diferente, porque agora, estou do lado de cá da história.”
Denise Perini nasceu em Santo André no dia 20 de abril de 1968. É formada em Letras. Quando tinha oito anos, ganhou de presente o livro Fábulas de Monteiro Lobato, e naquele momento, descobriu o “mundo encantado da literatura”. Depois disso, tornou-se adepta da leitura e da escrita. Percebeu, com grande prazer, que podia inventar suas próprias histórias.
Um pouco mais tarde, surgiu a paixão pelos romances. E hoje, entre outras atividades, ainda encontra tempo para fazer o que mais gosta: criar histórias divertidas, com personagens marcantes e aventureiros.

Proibida a entrada



“Tem dias que a gente se sente
como quem partiu ou morreu (...)
A gente quer ter voz ativa
e quer no destino mandar,
mas eis que chega a roda viva
e carrega este mundo pra lá (...)”.

(Roda Viva - Chico Buarque)


O fogo foi chegando e aniquilando tudo o que estava a sua frente. As primeiras a serem queimadas (vivas) foram às pequenas e frágeis vegetações rasteiras. Elas não tinham para onde fugir e ninguém para salvá-las, pelo contrário, tinha o vento forte que parecia ter feito um pacto com o fogo, porque por todos os lados só víamos o fogo crescendo e com uma rapidez impressionante.
O fogo encontrava uma árvore aqui ou acolá, mesmo assim como um matador implacável, primeiro atingia suas folhas e depois ia tomando conta de todo tronco, antes verde e cheio de vida, agora apenas uma sombra triste do que fora. O barulho era estridente, como se estivesse atingindo todos nós que presenciávamos aquela tragédia, impotentes diante de tantas chamas e de tanta fumaça. Alguns de nós até tentamos nos aproximar, para talvez jogar um pouco de água, mas o cenário era assustador. Por todos os lados as plantas agonizavam. Estávamos atônitos. Como tanta vida em um instante podia ter sido arrasada por uma avalanche dessa? Como aconteceu? De onde tinha partido tudo aquilo? Era apenas mais um sábado tranquilo de sol e nos pegou completamente desatentos.
Um pintor veio correndo para saber o que acontecera, disse que seu trabalho tinha sido todo estragado pela fuligem. Um dia inteiro de trabalho para nada. Teria que lavar toda a parede e começar tudo de novo. Trabalho em dobro, tudo por culpa do fogo.
De repente olhei ao meu redor e vi uma multidão de desconhecidos, todos do mesmo bairro conversando e falando da calamidade. Culpavam o dono do terreno por negligência, que ele nunca aparecia por lá, que era um inconsequente, porque o fogo poderia atingir as casas vizinhas.
Os bombeiros chegaram e sem conversar com ninguém se equiparam, pularam a cerca e começaram a fazer seu trabalho o mais rápido que podiam. Levavam consigo uma espécie de vassoura grande com cerdas de borracha e sem receio algum começaram a batalha contra o fogo.
Eu estava entre os que observavam tudo e pude ver as chamas destruindo uma palmeira que, imponente teimava em continuar ali em pé. No momento, tive à impressão que era uma pessoa amarrada a um poste, inocente, sendo queimada viva, porque não concordava com todo aquele horror. Calada, sem dar um grito de dor a palmeira foi sendo sucumbida pelo fogo. Digna, permaneceu em pé.
Foi só nesse momento que me dei conta que havia uma placa enorme com o aviso “Proibido a entrada, propriedade particular”. A placa continuava ali como se pudesse conter alguma coisa. Depois fiquei pensando “Proibido a entrada”, pela gramática seria “Proibida a entrada”, mas isso não faz a menor diferença. Queria mesmo saber sobre o que era a proibição, de animais, pessoas estranhas, do sol, da chuva, do vento, da dor?  Existe um controle sobre isso?
 A primeira a invadir aquele espaço foi à vida com suas plantas de vários tipos e tamanhos. Mas o que assistimos naquele sábado foi à entrada covarde do fogo que sem pedir permissão, como um “serial killer” foi matando a queima roupa o que via pela frente. Dia triste, dia de trauma para todos nós que vimos àquela tragédia sem poder fazer nada para impedir.
Missão cumprida, os bombeiros foram embora, deixando só as cinzas. Ficou a saudade daquela vegetação tão linda e jovem que ainda tinha tanta vida e beleza para alegrar nossos olhos.
Iracema Goor

SEM TÍTULO


Enquadro o meu corpo na Pessoa, queira eu descobrir o mistério de Fernando.
Deleito nos instantes de uma mesa e sob os pés toco na ponta do chapéu que me olha entre tantos que transitam entre Orfh (eu).
Enquanto aqueço e saboreio a xícara branca, envolto a pessoa a mesa e degusto a vida, as cores e os sabores...
O que é pra ver fica no espreito da gaveta e no interior existe o perigo que ainda não me arrisquei.

Adriana Bechelli


MEU SONHO




Era um belo dia de domingo, dia de folga o que é raro hoje em dia para um trabalhador brasileiro, encontrava-me em cima de uma estante ou escrivaninha como quiserem me chamar, as coisas mudam de nome a todo o momento.
Por vir lá da Idade Média alguns me acham chato ou ultrapassado e muitos não têm paciência comigo, talvez seja por esse bombardeio de informações através da internet, que me deixaram de lado.
Eu tenho um papel muito importante na história da sociedade, atravessei guerras e conflitos, mas continuo para o desenvolvimento humano, contribuindo como sempre fiz.
Tenho atravessado culturas querem me digitalizar, porém não sei até que ponto isso é bom, mas não deixo de pensar nessa possibilidade. Alguns me folheiam e interpretam de diferentes maneiras, isso é bom, pois recebo criticas e elogios – e dai, estou aqui pra isso mesmo.
Drummond, Manuel, Fernando, Euclides entre outros ícones me utilizaram com o intuito de outros me olharem, com outros olhos, ora com graça, ora com dúvida.
Não me deram folga domingo ou qualquer que seja o dia, me explorem ao máximo e me apresente aos seus filhos.

     

“Viela”


Edi Roque

Mais um dia e lá estava ele. Como se cumprisse um ritual, dando muito de si e recebendo tão pouco dos outros. Eu o via todos os dias, ele, porém, nunca me viu. Mesmo assim se oferecia à todos com o mesmo entusiasmo e amor. Em pouco tempo sua atitude me cativou e uma onda de compreensão e lirismo me tomou de assalto. Há quanto tempo eu desfrutava daquele ser e, nem ao menos, retribuía com a sua nobre missão?
Mas no dia seguinte, já não estava mais lá. Para onde foi, não sei. Apenas ficou em mim dívida e pesares incalculáveis.

A “Fome”


Apresento-lhes o pastel!
Tamanha a fome de um ser, que leva a saborear um pastel tamanho família. Nunca havia parado pra pensar, que uma pessoa seria capaz de devorar em alguns minutos, uma espécie de alimento, advindo da outra parte do “Planeta”. Como curiosidade o pastel tem sua origem no Japão, conta à lenda que por meio de um acidente o Gyosa (pastel cozido), tenha caído em óleo quente e a partir daí surgiu o pastel como o conhecemos. Naquele momento os recheios eram tradicionais, carne e queijo, apenas.
Bom, não foi somente por esta razão que fui tentada a comer o enorme pastel, mas sim pela exagerada fome que me assolava às 17h de domingo, à qual passei em uma “pacata” cidade, chamada Paulínia.
Vai ficar registrado em minha memória, por um bom período. Digo uma coisa, nem sempre o que vemos é o que parece ser, pois as aparências enganam muitas vezes. Essa experiência foi comprovada por mim.
O sabor esperado decepcionou, não estava a contento como o imaginado, o recheio deixou a desejar, a temperatura ficou abaixo do ideal, agora a única coisa que alcançou seu objetivo, foi o preço que agradou, inclusive ao dono do estabelecimento.

Dessa tarde ficou uma lição, nunca se deixar ir pelas aparências, pesquise, olhe, avalie, pense uma, duas, três ou mais vezes antes de atender a uma vontade.
Léa Gomes da Cruz Soares
13/04/2011
17h50

terça-feira, 5 de abril de 2011

GAIA

Gaia

Enquanto os bezerros mamam
Nas tetas cheias de leite
Fecham os olhos, demoradamente
Como lembranças internas, de cores vivas.

Próximo a ele, surge
Um casal. Que repentinamente
Fazem declarações de amor... Calorosamente
Um guri cantarola na estrada

Versos do verde da mata
Uma Seda leve, parte dela,
Um quarto de Gaia, único!

Ah! Acolhe-me em teu peito o sepulcro,
Minha Gaia, de paixão e do acaso,
Ah meu adorado e maravilhoso Brasil!

Léa Gomes da Cruz Soares

Natural de Santo André
Formação
Assistente Social - Formada pela FAPSS - Faculdade Paulista de Serviço Social de São Caetano do Sul - 1996.

Especialista em Serviço Social Hospitalar - HSPE _ IAMSP - FUNDAP - 2000

Especialista em Serviço Social Direitos e Competência - Formada pela UNB - 2010.

Encarregada do Centro de Referência a Mulher em Situação de Violência "Vem Maria" da Prefeitura de Santo André, desde 2005.

Formada em Letras pelo IESA - 2010 - Apaixonada por Literatura.

Texto em Prosa, publicado na Revista Tantas Letras de 2009 - "Como Escrever".

A teoria dos Bráulios




Pertenço a um grupo de pessoas seletas, se bem que hoje já tenho caído fora, pois a alienação daquela gente para o sexo passou dos limites da compreensão humana. Ainda me lembro bem das nossas reuniões realizadas à noite de sábados. Os Bráulios, era assim que nos chamávamos. Cada um possuía um número herdado não no ato de entrada, mas de acordo com uma interpretação numerologia criada pela nossa irmandade. Começávamos sempre exaltando a beleza de nossa pátria:
- No Brasil, existe uma incrível variedade de mulheres, dizia o número Sete, encarregado dos discursos de abertura. – Começando com as mulatas que se destacaram como rosto de beleza da nação brasileira. Há ainda outras de origem italiana, alemã, holandesa se pensarmos na época que o Brasil, ideologicamente, resolvera se clarear. O que deixou a trilogia étnica um pouco mais tênue. O que não vem ao caso aqui. A verdade é que me cansei desses discursos, o irmão Sete, às vezes me parecia um cachorro lambão. Quando entrei para nossa confraria; apenas estava interessado em foder a irmã número Seis, a mesma que me fez o convite num bar de esquina. Meu amigo me avisou da loucura daquela mulher, mas Luana era gostosa mesmo... Depois, passei a chamá-la de Seis, como todo batizado! O nosso batismo era orgia mesmo; não descreverei isso aqui, a finalidade deste texto é documentar para as gerações posteriores a existência da confraria dos Bráulios, nome que todos conhecem, mas poucos realmente compreenderam a beleza disso. Portanto, manterei uma postura rígida, exigida por um texto teórico.
A teoria dos Bráulios surgiu dessa variedade de escolhas; é claro que contamos também com o clima tropical, algo que tempera o estado de ânimo e transforma a vida em algo mais alegre. Pensei em usar o termo colorido no lugar de alegre, mas algumas palavras nos parecem inadequadas demais por gerar outros semas que possibilitariam uma interpretação errônea. Bráulio é Bráulio e pronto. A Seis quando me convencia naquele boteco de pertencer à irmandade, falara em meus ouvidos que enxerga duendes. Imaginei logo de início que os tais duendes era uma metáfora para o órgão genital masculino. Estava certo. O pior dos Bráulios era o fato de que até as mulheres queriam ser espadas, o que me fez cair fora rapidamente. Muitos irmãos e irmãs haviam protestado, uma vez que eu era o número Oito. Não liguei para nada. Sai. Por outro lado, carreguei comigo o mais fino dessa confraria, da qual agora, denomino A Teoria dos Bráulios:
Não há beleza no mundo sem as mulheres e isso qualquer homem concorda; digo homem, não me interessa as discussões homossexuais do tempo presente. A verdade é que sentado em uma mesa de bar num final de sexta-feira com meu amigo Patrick; pude observar o quanto da vida é efêmero e o que leva tantos homens a busca de mulheres perfeitas. Nesse caso, as prostitutas. Sei que muitos irão discordar ao ouvir isso, mas não se trata de nenhuma verdade. Isso é crença teórica e no melhor que você pode fazer é ouvir e pelo menos entender do que se trata. O público feminino no mínimo dirá que as putas nem se quer preenchem o requisito de ser mulher de verdade, mentira, mulher por mulher cafetão por cafetão, encontramos de montes. É provável que você, como leitor, esteja achando tudo isso teórico demais, por outro lado, o nome já diz ; trata-se dos Bráulios.
As mulheres que me perdoem, mas este texto não possui assim um caráter feminino nem tão pouco discorre de assuntos pertencentes a esse universo, quando pensamos na delicadeza e sensibilidade que só as mulheres possuem. A verdade é que mesmo na confraria, havia muitas mulheres nos seguindo; motivo esse que fazia muitos homens aderir a nossa causa, ainda que até hoje não sei direito qual é a causa, além de foder, é claro. Lembro-me claramente que o número Vinte e Quatro dizia que seriamos mais poderosos que os Iluminates. – Cale a boca! Os Iluminates nunca existiram! Isso é teoria de retardado. O que existe é o Bráulio!  Não há nada aqui que não seja de conhecimento popular, mas ainda assim não deixa de ser teoria. Bráulio significa espada em fogo, de acordo com sua raiz germânica. O que no nosso caso não importa muito, uma vez que nossas reuniões eram sempre em lugares abertos. Estávamos sentados numa mesa de bar, vendo a variedade de mulheres que desfilavam na Estrada do Pedroso quando o Vinte Quatro disse aquela asneira da qual o repreendi. A origem da palavra é apenas um dos significados, existem ainda os da prestatividade ou o da numerologia que indica o número seis. Não sei. Para muitos, braular significa foder. Para outros, Bráulio nada mais é que o órgão sexual masculino denominado de pênis, mas no popular encontramos pinto, pau, rola, cacete, tora, vara, caralho e tantos outros nomes que não me é possível listar neste estudo científico. Eu prefiro dizer caralho, porque rima com malho, é mais bonito e se lembrarmos os marombeiros das academias, então temos um sentido estético também.
Outra confusão que levou os Bráulios a se dividirem em direitas e esquerdistas foi à definição da palavra foder. A palavra foder pode ter origem na latina “fodio” que significa cavar, escavar, furar, transpassar, vazar, no caso os olhos e isso é muito significativo, pois um homem sente vontade de foder uma mulher quanto ele a vê. O que foi mais ou menos o ocorrido naquela noite de quinta-feira quando conheci a Seis. Também existe o sentido figurado de tirar, aguilhoar, torturar e isso tudo lembra o sadismo, espicaçar e dilacerar e por ai vai. Lembre-se que o termo libertinagem também está próximo da palavra liberdade, dizia o número Dois, encarregado de ensinar a doutrina aos recém batizados. O que em prática não representa a realidade, um desses vocábulos é aceito na sociedade, o outro é corrompido pelo purismo do preconceito. E isso também faz da minha tentativa de teorizar algo tão importante em um fracasso.
É melhor eu exemplificar com uma história real. Ainda que a realidade só possa ser captada por um momento, sem nenhuma reprodução. Quando fui à praça, no centro da cidade; encontrei o Gusta que queria beber um pouco e se distrair dos aborrecimentos da vida. Naquele dia, resolvemos andar e acabamos num bar próximo a estação ferroviária de Santo André. Havia uma ruiva dessas de cabelo tingido lá no fundo do bar. Eu e o Gusta vimos logo de cara. Mudamos de mesa; pensava em fechar a garota ali mesmo, mas ela foi embora. No final da noite, passamos no bordel ao lado, praticamente fazendo parede ao fundo do bar. Ela estava lá em todo seu esplendor de puta, tentando praticar o poli dance. A garota se chamava Marcela e tinha apenas dezenove anos. O Gusta estava sem dinheiro; eu busquei das minhas economias e fui. A mulher era casada e tinha um filho; me disse que saia com o rapaz daquela lanchonete onde estávamos, perguntei quem era.  - O moreno de cabelo em pé. Guardei o telefone dela. Ainda em outra tarde comentava com o Patrick esse desejo animal de sair braulando tudo. Ele me falava de Miss Julie, do Rubem Fonseca. Há muitos outros exemplos, existem aqueles que nos chegam por uma voz, como acontecera comigo, quando ainda lecionava em um colégio particular da cidade de Mauá. O Charles na sala dos professores havia me dito que um moleque de no máximo vinte anos saiu para beber e no auge de sua alegria, teve a sorte de ficar com uma garota muito boa, como não queria passar por ridículo e brochar. O que é bem natural na teoria dos Bráulios, diga se de passagem. O moleque tomou um viagra inteiro e acabou fodendo a garota a noite inteira, porém não ejaculou. Passou um dia inteiro com o caralho duro; acabou tento que contar aos pais, foi ao médico, mas havia passado tempo demais, cangrenou e teve que amputar o pau. Esse nunca mais braulou ninguém. Não sei, é necessário haver informação e responsabilidade, dizia à enfermeira que contou a história para o Charles. Entre tantas vitrines que nos passam, seja loura, morena, mulata, não importa. Vou continuar braulando.

Leandro Ramires Rodrigues é formado em Letras pela FMU, especialista em Literatura pela PUC-SP, atualmente realiza cursos como aluno especial na USP, lugar onde pretende abrir o mestrado em teoria literária. “Diálogos de metaficção em O Sol Se Põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho”. Leciona língua portuguesa, literatura e redação para o ensino médio desde 1998, passando por outras modalidades de ensino também. Atualmente, é o conselheiro de Literatura da cidade de Santo André – gestão 2010/2012. Não se considera poeta nem escritor, palavras complicadas de se definir, mas se aventura no mundo da escrita desde 1997, quando um abençoado professor de literatura na faculdade de letras resolveu dedicar se de graça, abrindo uma oficina de criação literária. Ficou doente e desde então não mais largou a poesia e a ficção.



NÃO VOU MAIS ME EMBORA




Não sou mais amigo do Rei
Se aqui te encontro
Bem imaginas o que farei
Te mato e sabes muito bem

Não vou mais embora
Pra nem posso dizer o nome
Pois este  nome  me da sede da cabeça
De um homem

Pois lá o que me ofereceste
Se procurar por 100 anos
Jamais encontrarei
Pois tua cobiça lhe corrompeste
Não vou mais embora
Ah!!! Reinaldo meu Rei
Se aqui te encontro
Te considero um homem morto

Levaste o meu maior bem
Deitaste com a mulher que escolhi
Na cama que imaginei
A quem tanto amei
Foi lá...e não me esquecerei,
Na esquina com a rua do armazém.

Regiane Coutinho


sábado, 2 de abril de 2011

Endereços

Olá Turma,

Bom... jogo rápido.

Caso vocês tenhom blogs ou sites
de produção artística ou não,
passem para mim o endereço para
que eu possa inclui-lo no nosso
setor PARCEIROS... inclui os
meus, o da Marli que é lindo,
e o do Mestre Pafundi.
Marli o poeta que falou do trabalho
da turma, o qual lhe falei
é o Jorge Lasar... incluido em nossa
lista.
Sugiro que leiam esses blogs, são de
pessoas de talento singular... incluindo
o professor e amigo Vinicius.

Boa leitura e aguardo
Beijo nas mina e abraço nos manos.

Flávio Mello

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Fósforo Angustiante

Willian Medeiros


Na chama crepitante,
de um fósforo angustiante,
Tal a chama angustiada
dos anjos escaldantes.

Veio-me o sabor do enxofre,
o amargo do café.
EU, ser de pouca fé,
dominado por versos podres.

Na fumaça, crônica, o toco preto.
A brasa do cigarro,
na garganta o maldito pigarro...

Nas folhas, pulmões amarelos,
versos malditos, belos, porém, negros...
Presos num soneto, morada, e alvéolo.


Possui graduação em Letras - Literatura, Especialização em Praticas e Vertentes - Literatura Africana e Infantil e Mestrado em andamento no curso de Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, Brasil.

Título de tese: Restauremos a Poesia em Cristo: a poesia religiosa de Jorge de Lima, Ano de Obtenção: 2012.

É professor, palestrante, coordenador editorial e escritor, autor de vários livros de ficção e artigos em revistas.

Atualmente é professor convidado em Universidades e colégios onde ministra aulas sobre Literatura, Escrita Criativa, o Conto Contemporâneo e a Poesia. Oficinas em diferentes abordagens que vão desde a criação de peças e construção de fantoches a Poesia e a Poesia Modernista de Jorge de Lima.

Coordena o curso Leituras Literárias: Reflexões e Escrita na Casa da Palavra.

TRAVESSURAS DE MENINO



por Patrick Frasames de Barros

dedicado ao menino Rubem Braga

– Fiquei sabendo que o senhor possui muitos passarinhos.
– Sim alguns.
– Eles cantam?
– Sim todos cantam.
– Gosto muito de passarinhos.
– Por que não tem?
– Não tenho dinheiro para comprar.
– Existem meios de tê-los sem comprar.
– Como?
– Armando arapuca no mato.
– Você me ensina a fazer isso?
– Claro, que sim.
– Por onde devo começar?
– Vá a uma casa de aves.
– Fazer o quê?
– Comprar uma arapuca.
– Sem dinheiro?
– Sim, peça em meu nome.
– Moço me dá um passarinho?
– Só posso lhe dar uma arapuca.