quinta-feira, 31 de março de 2011

A SONATA EXTRAVIADA

fiorentinos musician angel


por Denise Perini

Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.

Adélia Prado


A noite não tem lua,
e até as estrelas se fecharam atrás
das nuvens espessas.
Nem Damas da Noite e
tão pouco os pobres gerânios.
Não há flautas docemente melodiosas.
A única música que ouço
vem dos acordes entristecidos do meu coração.
Soltos no tempo ficaram
a juventude, a ternura e a graça de viver.
Comigo só vieram a dor, a tristeza e bem lá no fundo...
um resquício da emoção perdida
quando me lembro dos olhos dele...
Ah, Adélia! Perdoe-me!
Não fui doida e tão pouco santa.
Oscilei entre o medo e a sensatez.
Encarcerada pelas convenções hipócritas,
não abri a janela.
E hoje, prisioneira de mim mesma,
me pergunto:
Faltou loucura ou sobrou santidade?



CANÇÃO DA VIDA





Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá
Gonçalves Dias


Minha vida tem momentos,
De alegria e prazer;
Como as aves que cantam,
Em todo amanhecer.

Nossos dias tem mais brilho,
Nossas casas tem mais flores,
Nossas noites tem mais luzes,
Nossa vida mais amores.

Ás vezes, sozinha, à noite,
Mais prazer encontro no lar;
Minha vida tem momentos,
Pois tem harmonia lá.

Minha casa tem alegrias,
Que sempre vivo a encontrar;
As vezes, sozinho a noite;
Mais prazer encontro lá.

Permito Deus que eu não morra,
Sem que eu volte para o lar;
Sem que desfrute a família,
Que encontro por lá;
Que eu tenha muito momentos,
De alegria e cantar.


Sobre a poeta



Margarida é mãe de 2 filhos, estudo na Unianhanguera no curso de Pedagogia.

Metamorfoses (em oito partes)


Fragmento
                                   
                                I – O quarto.

A manhã me arranha o rosto com som molhado
                                   Encostado na parede como rede estou em luz,
                                   Ofusca o grito do Viajante do quarto ao lado
                                   A noite se foi em siluetas de samba e abraços de mulher
                                   Do meu lado, a existência é um dia nublado,
                                   Mas o Viajante jantou o pó de sua jornada...
                                   Agora o desespero produz da manta um casulo,
                                   Libera a carne e a roupa de um inseto homem.

                                   O grotesco risca a metafísica do sonho
                                   Vejo as mutações de multidões no cimento
                                   As muitas pernas se voltando para o catre sol,
                                   Catedral imagem leva o Viajante o grito pó
                                   A casa corre tanto dentro quanto fora,
                                   A casa é um rio sem corpo e de muitas vozes
                                   Faz viagem no Viajante que não deixa a cama
                                   Reclama a chama e sai na ausência os olhos de vida


Leandro Ramires Rodrigues é formado em Letras pela FMU, especialista em Literatura pela PUC-SP, atualmente realiza cursos como aluno especial na USP, lugar onde pretende abrir o mestrado em teoria literária. “Diálogos de metaficção em O Sol Se Põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho”. Leciona língua portuguesa, literatura e redação para o ensino médio desde 1998, passando por outras modalidades de ensino também. Atualmente, é o conselheiro de Literatura da cidade de Santo André – gestão 2010/2012. Não se considera poeta nem escritor, palavras complicadas de se definir, mas se aventura no mundo da escrita desde 1997, quando um abençoado professor de literatura na faculdade de letras resolveu dedicar se de graça, abrindo uma oficina de criação literária. Ficou doente e desde então não mais largou a poesia e a ficção.

LUZ


Por Leandro Ramires Rodrigues

O pavão é um arco-íris de plumas.
Rubem Braga

O orvalho é um atalho de cores
Desce o choro de Deus sobre a terra
Ali, onde o Pavão abre suas penas,
Sem saber que apenas’água há encanto
Canto mudo de um amante sem glória:
- É olhar o corpo no arco-íris que me veste



Leandro Ramires Rodrigues é formado em Letras pela FMU, especialista em Literatura pela PUC-SP, atualmente realiza cursos como aluno especial na USP, lugar onde pretende abrir o mestrado em teoria literária. “Diálogos de metaficção em O Sol Se Põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho”. Leciona língua portuguesa, literatura e redação para o ensino médio desde 1998, passando por outras modalidades de ensino também. Atualmente, é o conselheiro de Literatura da cidade de Santo André – gestão 2010/2012. Não se considera poeta nem escritor, palavras complicadas de se definir, mas se aventura no mundo da escrita desde 1997, quando um abençoado professor de literatura na faculdade de letras resolveu dedicar se de graça, abrindo uma oficina de criação literária. Ficou doente e desde então não mais largou a poesia e a ficção.










 

TINHA UMA JANELA NO MEIO DO CAMINHO

Menina na janela
Salvador Dali

por Marli Pizzi

Outro dia fiquei sentada por três horas aguardando uma consulta médica. Não havia o que se fazer ali, naquele consultório comum. Na mesinha ao lado, revistas velhas com letreiros desbotados e notícias encardidas. Pessoas também comuns, murmurinhos doentes, pacientes impacientes. Nada para ler, nada para se falar.
Três horas quase perdidas, salvas por uma fração mágica de segundos. Minhas retinas tão fatigadas conseguiram captar uma imagem: uma janela. Que imagem mais comum, diriam alguns, mas como tudo é uma questão de relatividade, a janela passou a ter para mim, um valor altamente significativo. A arquitetura era  bem antiga, talvez início do século XX. Permaneci ali, centrada naquela visão. Estranho, mas parecia ser a primeira vez que via uma janela.
Como pensar no exato valor que há em uma janela? Que significado importante poderia ter uma janela na confusão doentia do dia a dia correndo lá fora?
Se para Carlos Drummond de Andrade tinha uma pedra no meio do caminho, para mim, tinha uma janela no meio do caminho.
Como ignorar uma janela? Onde há uma janela, há uma poesia grávida pronta para nascer.
Quantas coisas sentimos através de uma janela ... Por ela vimos a vida renascer todos os dias, quando deixamos  o sol entrar. Por ela damos adeus a um amor. Por ela vimos as pedras no nosso caminho. Por elas tememos a escuridão  e esperamos a mansidão da luz. Existem sonhos através das janelas. Nossa mente cansada vagueia a vida que sonhamos ter. Existem lágrimas que se colam à janela, sempre quando chega o entardecer e percebe-se que nada vem pronto na vida.
Como poesia e vida circulam na mesma veia, proponho um exercício bem fácil: sentemos à frente de uma janela e observemos a vida que corre através dela. Não importa a arquitetura da janela, ou se é feia ou bonita, velha ou nova, o importante é que esteja aberta, e que haja um pano de fundo: uma rua ... uma flor... uma pedra, ou quem sabe o trio de tudo isso. Assim, dessa forma tão simples, nascerá em algum coração um rebento de poesia.


 

Marli Pizzi nasceu em Araçatuba, interior de São Paulo, em 16/08/68 (ano de sonhos e lutas). Veio ainda muito pequena morar em Santo André, cidade do seu coração. Seu contato com as palavras foi amor à primeira vista, tendo começado a escrever ainda criança, porém perdeu todos os escritos dessa época em uma mudança.

Fez Letras pela Faculdade de Filosofia e Letras Fundação Santo André, iniciando sua carreira como professora de Língua Portuguesa em 1992, na rede estadual. Atualmente trabalha na rede municipal de Diadema, lecionando para a EJA (Educação de Jovens e Adultos).

Em 2006, formou-se no curso de Pós-Graduação em Literatura, pela PUC-SP, apresentando a monografia “Álbum de retalhos – a poética da apropriação em Ana Cristina Cesar”.

Possui um blog de poesia intitulado LUA NUA (estacaopoesia.blogspot.com).
É mãe de Luene (raio de luz) e Ian ( a graça de Deus).

ESCREVER, COMPOR O TEMPO


e escrever é prolongar o tempo,
é dividi-lo em partículas de segundos...
Clarice Lispector

por Adriana Bechelli

Gosto de escrever quando estou ansioso o tempo é virtude invisível aos olhos meus e os de quem os leem. Improviso para que tais soluções sejam tardias como as tardes interrogativas. Escrever é o limiar de um tempo imaginário profundo mistério. È como se desprender inteiramente das palavras, paradigma: do animismo.
Minibiografia de Adriana Bechelli

Adriana Bechelli nasceu em Mauá, São Paulo em 21/02/1971;
Participou do Concurso de Poesias Mauá na Visão dos Poetas em 1989 6º lugar;
Fundou o Grupo Linguagem Poética, há dois anos em atividade 1992-1994;
Expôs com o grupo os seguintes trabalhos: “Fotos da Cidade&Poemas” e Poemas&Grafites”;
Periodicamente faz fanzine e escreve para o Jornal A Voz de Mauá, a coluna Inúbia;
Em 2003 participou de uma Antologia Poética “As Cidades Cantam o Tamanduateí que Passa” realização da Secretaria de Cultura de Mauá;
Em 2005 lançou o livro Poemas D´Alma contemplado pelo FAC;
Em 2006 lançou o fanzine Do Retorno: Anjo Caído contemplado pelo FAC;
Projeto Mostre Também o Seu Fanzine de sua autoria, atividade mensal realizado em 2006 no Teatro Municipal de Mauá.

DESASTRE AÉREO

                                      
Por Maria de Fátima de Souza
Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius.
Jorge de Lima 
Ainda sinto o cheiro de morte no ar! Vejo sangue que personifica os corpos com suas lembranças e objetos de adoração. O piloto, embaixo da fuselagem do avião, segurava uma flor, agora impedido de entregá-la ao seu amor. E o violinista, inerte e alvo como a neve, despencou sem tempo para pensar quais seriam as últimas melodias, tudo negro como sua cabeleira. Após a explosão, inicia-se o balé de pernas, braços e mãos. Pobres bailarinas! Tão jovens para dançarem no céu. Reconhecer os corpos? Missão impossível até para o parente mais próximo ou experiente profissional. Vejo chuva de sangue colorindo as nuvens, batizadas pelo sangue dos poetas escolhidos para representar a nação. A nadadora, bela a deslizar pelas ondas do infinito mar, mergulhava veloz, porém sem vida. Vejo crianças com suas bonecas, caindo rápido sem asas angelicais. Noto o pavor da mulher que transforma o buquê de rosas em um auspicioso pára-quedas, e o vestido reluzente da soprano desenhar no pentagrama celestial uma escala cromática descendente. As badaladas do sino eram ensurdecedoras chorando o triste fim coletivo. Será que a jovem cega e adormecida na cabine não acordou no meio de tanta confusão? Oh Deus, como pode o paralítico atravessar o céu e ser mais rápido que o vento?! Agora a chuva de sangue tinge os algodões celestiais e a visão turva de alguns poetas confunde o cenário com a aurora boreal.

Maria de Fátima de Souza formada em Adm - Comércio Exterior, trabalho como secretária na Universidade Metodista, Setor de IT; Pós-graduação em Tradução Inglês-Português (2010) e Tradução em Espanhol-Português (2011); Hobbies: Viajar como "mochileira" para conhecer outras culturas e atleta de corridas de rua...futura maratonista.

“O OUTRO...”

(La reproduction interdite, 1937)
Réné Magritte

Por Edi Roque
Seu nome era Edgar, como seu maior ídolo, Allan Poe, e lecionar era o seu ofício. Sabe-se que já não o fazia com o mesmo prazer de antes. Ao contrário, por vezes, encarava sua tarefa como uma sentença, um castigo divino acerca de seu próprio saber.
Seus pensamentos muitas vezes vagavam livres enquanto seu corpo físico estava ali, preso junto a um grupo de pessoas na mesma situação. A única diferença era que ele, na maioria do tempo, ficava em pé tornando a sua “separação do corpo” mais dificultosa, pois ainda assim, precisava manter sua postura e preservar o mínimo de respeito que ainda lhe restava perante seus alunos.
Porém, aquela noite carregava algo diferente no ar. Um clima tipicamente Londrino, apesar de incomum nessa época do ano e região, tomou conta da cidade. A forte neblina tornava uma simples caminhada nas ruas em uma aventura (salvo as proporções) Homérica. A cada passo era revelado um novo cenário ou um novo obstáculo onde, embalado pelo ritmo da caminhada, muitas vezes era impossível de se esquivar. O chão úmido e escorregadio fechava o “pacote” de maneira magistral. Certamente, nem o mais assustador trem-fantasma criado pelo homem se compararia com tal perfeição a essa obra da mãe-natureza.
Com certa dose de cuidado, conseguiu o professor chegar à escola sem adquirir muitas escoriações pelo caminho. Como de costume, chegou mais cedo e pôs-se a escrever no quadro negro enquanto os alunos pouco a pouco se acomodavam nas poucas cadeiras disponíveis já em posição de cochilo. Professor e alunos compartilhavam com desgosto algumas caixas de papelão e demais objetos decorrentes de uma reforma mal administrada, amontoados nos cantos da pequena sala.
Subitamente, o silêncio tomou conta da sala. Em uma noite normal, seria possível ouvir o ronco contido de um aluno menos interessado em literatura. Mas naquela noite, um ar frio e denso entrou pela porta como sopro que congela não só o corpo, mas também o espírito.
Tal silêncio parecia envolver o mundo inteiro, dentro e fora da escola. Tudo estava mudo. Seus ouvidos estavam tão abafados que podia sentir pulsar dentro de sua cabeça as batidas do seu coração, fortes e cadenciadas como a “Sonata ao Luar” de Beethoven.  Imaginando ser o último ser vivo na face da Terra, Edgar virou lentamente para trás e deparou-se horrorizado com “ele”. Vestindo uma capa longa que mais pareciam asas negras de um pássaro da morte, lá estava “ele”, no último dia de aula, ao fundo da sala, em pé, simplesmente a lhe encarar.
Quem é este? Pensou. De onde surgiu? A que veio? Todos os músculos de seu corpo se enrijeceram e sua respiração tornou-se ofegante. Simplesmente não conseguia encarar aquele homem misterioso que permanecia ali como se o desafiasse a olhar nos olhos ou como se estivesse esperando uma ordem dos céus ou do inferno para ceifar-lhe a alma.
Amigos vão-se embora, este ser também há de ir, pensou o professor numa tentativa inútil de reunir forças e tomar alguma atitude, ainda que fosse a fuga. Mas seus pés o traíram e lá ficou, estático, pálido e totalmente dominado por aquele anjo negro que também permanecia imóvel e indiferente ao seu terror.
O mais agonizante de tudo era o fato de que ninguém parecia notar a presença daquele homem ao fundo da sala e ninguém se preocupou em ver o professor ali parado, trêmulo e sem reação. Em seus pensamentos, rapidamente analisou que, por se tratar de um espírito, somente as pessoas marcadas para morrer é que poderiam enxergá-lo e isso o fez sentir um nó na garganta e o desespero em imaginar uma vida inteira pela frente que seria ali interrompida contra sua vontade.
Ainda tenho tanto a fazer. Isso não é justo. Deus, por quê está fazendo isso comigo? Sequer tinha forças para balbuciar tais pensamentos. Dizem, nesses momentos, um filme passa em nossas mentes, mas a única lembrança do professor era a sua vida inútil. Perdera todo o seu tempo vivendo sozinho e infeliz, em meio a livros cheirando mofo enquanto dividia o silêncio de sua rotina tediosa com um gato tão soturno quanto ele. Aliás, o gato é o animal de estimação dos solitários.
Uma lágrima correu pelo seu rosto gelado e finalmente despertou em si um leve riso. Suspirou...
Eu mereço morrer. Conformou-se enquanto fechava os olhos e abria os braços. Nesse momento, o sinal indicando o fim da aula fez-se ouvir e só então os alunos, ao sair da sala, perceberam o estranho gesto do professor que permanecia com seus braços abertos num gesto de total entrega e aceitação de seu destino.
Nunca mais, nunca mais, disse o último aluno ao passar por ele e sair. Imediatamente se encheu de coragem, abriu os olhos para encarar o anjo negro e, ao menos, morrer com dignidade, mas eis que o anjo se encontrava com os braços também abertos, exatamente na mesma posição. Totalmente desajeitado o professor virou-se para a sua mesa e, colocando os óculos, voltou-se novamente para o anjo da morte, qual foi a sua surpresa ao ver que sua imaginação transformou um velho e quebrado espelho encostado na parede em um ser tão aterrorizante quanto libertador.
Sobre o autor:
           
            Edi Roque é músico, cantor e compositor com mais de 10 anos de carreira. Possui em seu currículo dois discos autorais (um deles lançado e divulgado no Japão), além de inúmeras participações em gravações de outros artistas, trilhas sonoras, jingles publicitários e produções de artistas nacionais e internacionais. Atualmente, vem desenvolvendo seu trabalho voltado à música instrumental.

Nascido em Santo André, região do Grande ABC famosa pela safra de bons artistas. Edi Roque trabalha desde 1997 suas composições com a proposta de fazer “um pouco de música sincera, feita com o coração” e o show atual mostra o resultado de toda essa dedicação, amor à música e bom gosto, captando toda a sua expressividade através de arranjos inéditos e melodias inspiradas.

Em suas apresentações atuais, Edi Roque reúne a experiência adquirida em palcos e estúdios, demonstrando todo o seu potencial sonoro, seja acompanhado por uma competente banda de apoio ou através de bases pré-gravadas (playback) em alguns workshops com menor estrutura.

 No repertório do show, músicas inéditas do novo álbum intitulado “Caminho”, definidas como “Expressive Rock”. Devido ao contexto intimista bem como seu conceito sonoro, o CD apresenta execuções que fundem lirismo e virtuosismo em arranjos totalmente originais.

Edi Roque pretende com este novo trabalho apresentar uma visão pessoal e criativa, sempre honrando suas origens, através da música instrumental.

EDI ROQUE

contatos:
(11) 9532 7426 / 8510 2316
edi.roque@hotmail.com

O VENTO


Por Iracema Goor
 
Era uma menininha linda de cabelos cacheados com apenas dois anos e meio de idade correndo por uma pequena pracinha. Em suas pequenas mãos carregava alguns pratinhos de aniversário para brincar de casinha, como dizia ela ao Seu Venceslau.
Colocou os pratinhos no banco da praça e percebeu que eles voavam como passarinhos. Não entendeu porque não paravam no banco de cimento e a toda hora caiam no chão. Observou as folhas caírem das árvores e começou a ouvir um barulho estranho, ao mesmo tempo arrumava seus cachinhos que teimavam em escorregar pelo seu pequeno rosto. Não teve dúvida, apontou seu  pequeno dedo em riste para o céu e disse: – Vento! Para agora!
Seu Venceslau riu e lhe disse que jamais iria parar o vento. Ela discordou e mais uma vez disse com mais ênfase: – Vento! Já disse pra você parar!  Tá desarrumando meu cabelo e levando meus pratinhos embora!  Seu Venceslau olhou para a pequenina e pensou que em seus longos dias de vida nunca tinha pensado em parar o vento.   Quem sabe aquela pequena menininha conseguiria, afinal é só uma questão de acreditar, e ela acreditava.
No momento seguinte, a pequenina  estava olhando para uma  formiguinha, mas o vento forte também a levou junto com a folhinha que carregava.  Seu Venceslau em seu pensamento lembrou de suas mágoas e dores e quase se perdeu no vento vago da solidão. Sentiu saudade do tempo em que o vento soprava sem o devorar e sem pedir licença para entrar. Voltou a olhar para a pequenina tentando encontrar um vento que não varresse de vez o seu ser. E o encanto aconteceu.
O olhar inocente da criança se encontrou com o olhar já bem vivido daquele velho. E deram um sorriso que alegrou todo o céu. O vento parou.  A beleza apareceu com seus tons dourados e naquele momento  não se sabia mais onde começava a criança e onde terminava o velho. Suas almas eram pura alegria. O vento parou,  porque reverenciou o encontro daquela que tinha uma vida inteira para aprender e iluminou com sua alegria aquele que tinha pouco tempo para viver.
Então o vento cantou:
 
Fui vento?
Não sei.
Não sei se fui vento, brisa ou tempestade.
Mas sei que soprei.
 
Não sei se soprei de forma branda ou forte.
Mas sei que entrei nesse lugar.
Não sei se entrei na mente, ou no coração.
Ou só envolvi por alguns instantes...
 
Mas sei que tentei ser vento bom.
Que leva as impurezas e que traz a chuva e o sol quente.
Agora serei vento em outro lugar,
E tentarei ser vento bom por todos os lugares em que soprar.

E a menininha se foi. Seu Venceslau ainda sorria por passar mais um dia de vida em que um pequeno ser tinha notado sua presença, de igual para igual.  Sentiu-se humano novamente e amou, amou profundamente aquela criança que dificilmente iria ver novamente.


Primeiro fui secretária executiva.
Em Pedagogia e Letras me formei,
como esposa e mãe fui primitiva.
Mas... foi na pós-graduação da PUC que sonhei.

O cheiro do jasmim e do tomilho,
Florbela Espanca me mostrou.
Seus versos como um grão de milho...
em rendas e bordados transformou.

Hoje, sou diretora de escola,
a  trabalhar  a inocência e a esperança.
Para o cargo não dou a menor bola,
quero apenas resgatar a magia da criança.

Tenho em Deus o meu norte,
que acalma o meu coração,
que me inspira e me torna forte.
É o sal que tempera a minha emoção.
 

Iracema Goor

sexta-feira, 25 de março de 2011

Influências de quê?


Na última quarta-feira, 23/03/2011, continuamos falando sobre as interferências artísticas, analisamos diferentes mídias e discutimos sobre alguns pontos específicos sobre a Arte (nosso ponto de partida).
Os primeiros encontros giraram nos arredores dos intertextos, influências, que podemos encontrar em muitas obras de diferentes artistas, podendo ser um clip musical de uma banda e ou comercial, um filme, uma pintura, um poema, uma música, enfim inúmeras possibilidades.
Tendo em vista tudo isso, foi proposto a turma que cada um produzisse um trabalho, escrito, que fosse tocado de alguma maneira por algum desses fatores artísticos.
Aguardando resultado.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Curso - Leitura Literária: reflexões e escrita


Curso com FLÁVIO MELLO
Período: de 16 de março a 22 de junho (15 aulas)
Horário: das 19h às 21h
Necessário Inscrição (pessoalmente)
Vagas limitadas: 30 (trinta)

O curso tem como objetivo expor ao aluno variedades de textos e linguagens literárias, analisando os focos narrativos, líricos e criativos de diferentes autores, fazendo um panorama básico sobre o processo criativo. O curso parte da análise de diferentes tipos de textos, imagens e vídeos, e aborda os temas recorrentes em diferentes linguagens artísticas, sob o foco literário. O curso propõe uma aproximação dos diferentes gêneros literários, partindo do romance e da novela, avançando até o conto, a crônica, a poesia e suas variantes mais modernas e experimentais, como o “cronto” – mistura de conto, crônica e linguagem poética. Sempre acompanhado de atividades de criação e apoiado em recursos artísticos diversos, esse curso se apresenta como uma excelente iniciação ao mundo literário.

Mais em: