quinta-feira, 31 de março de 2011

DESASTRE AÉREO

                                      
Por Maria de Fátima de Souza
Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius.
Jorge de Lima 
Ainda sinto o cheiro de morte no ar! Vejo sangue que personifica os corpos com suas lembranças e objetos de adoração. O piloto, embaixo da fuselagem do avião, segurava uma flor, agora impedido de entregá-la ao seu amor. E o violinista, inerte e alvo como a neve, despencou sem tempo para pensar quais seriam as últimas melodias, tudo negro como sua cabeleira. Após a explosão, inicia-se o balé de pernas, braços e mãos. Pobres bailarinas! Tão jovens para dançarem no céu. Reconhecer os corpos? Missão impossível até para o parente mais próximo ou experiente profissional. Vejo chuva de sangue colorindo as nuvens, batizadas pelo sangue dos poetas escolhidos para representar a nação. A nadadora, bela a deslizar pelas ondas do infinito mar, mergulhava veloz, porém sem vida. Vejo crianças com suas bonecas, caindo rápido sem asas angelicais. Noto o pavor da mulher que transforma o buquê de rosas em um auspicioso pára-quedas, e o vestido reluzente da soprano desenhar no pentagrama celestial uma escala cromática descendente. As badaladas do sino eram ensurdecedoras chorando o triste fim coletivo. Será que a jovem cega e adormecida na cabine não acordou no meio de tanta confusão? Oh Deus, como pode o paralítico atravessar o céu e ser mais rápido que o vento?! Agora a chuva de sangue tinge os algodões celestiais e a visão turva de alguns poetas confunde o cenário com a aurora boreal.

Maria de Fátima de Souza formada em Adm - Comércio Exterior, trabalho como secretária na Universidade Metodista, Setor de IT; Pós-graduação em Tradução Inglês-Português (2010) e Tradução em Espanhol-Português (2011); Hobbies: Viajar como "mochileira" para conhecer outras culturas e atleta de corridas de rua...futura maratonista.

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