quinta-feira, 31 de março de 2011

O VENTO


Por Iracema Goor
 
Era uma menininha linda de cabelos cacheados com apenas dois anos e meio de idade correndo por uma pequena pracinha. Em suas pequenas mãos carregava alguns pratinhos de aniversário para brincar de casinha, como dizia ela ao Seu Venceslau.
Colocou os pratinhos no banco da praça e percebeu que eles voavam como passarinhos. Não entendeu porque não paravam no banco de cimento e a toda hora caiam no chão. Observou as folhas caírem das árvores e começou a ouvir um barulho estranho, ao mesmo tempo arrumava seus cachinhos que teimavam em escorregar pelo seu pequeno rosto. Não teve dúvida, apontou seu  pequeno dedo em riste para o céu e disse: – Vento! Para agora!
Seu Venceslau riu e lhe disse que jamais iria parar o vento. Ela discordou e mais uma vez disse com mais ênfase: – Vento! Já disse pra você parar!  Tá desarrumando meu cabelo e levando meus pratinhos embora!  Seu Venceslau olhou para a pequenina e pensou que em seus longos dias de vida nunca tinha pensado em parar o vento.   Quem sabe aquela pequena menininha conseguiria, afinal é só uma questão de acreditar, e ela acreditava.
No momento seguinte, a pequenina  estava olhando para uma  formiguinha, mas o vento forte também a levou junto com a folhinha que carregava.  Seu Venceslau em seu pensamento lembrou de suas mágoas e dores e quase se perdeu no vento vago da solidão. Sentiu saudade do tempo em que o vento soprava sem o devorar e sem pedir licença para entrar. Voltou a olhar para a pequenina tentando encontrar um vento que não varresse de vez o seu ser. E o encanto aconteceu.
O olhar inocente da criança se encontrou com o olhar já bem vivido daquele velho. E deram um sorriso que alegrou todo o céu. O vento parou.  A beleza apareceu com seus tons dourados e naquele momento  não se sabia mais onde começava a criança e onde terminava o velho. Suas almas eram pura alegria. O vento parou,  porque reverenciou o encontro daquela que tinha uma vida inteira para aprender e iluminou com sua alegria aquele que tinha pouco tempo para viver.
Então o vento cantou:
 
Fui vento?
Não sei.
Não sei se fui vento, brisa ou tempestade.
Mas sei que soprei.
 
Não sei se soprei de forma branda ou forte.
Mas sei que entrei nesse lugar.
Não sei se entrei na mente, ou no coração.
Ou só envolvi por alguns instantes...
 
Mas sei que tentei ser vento bom.
Que leva as impurezas e que traz a chuva e o sol quente.
Agora serei vento em outro lugar,
E tentarei ser vento bom por todos os lugares em que soprar.

E a menininha se foi. Seu Venceslau ainda sorria por passar mais um dia de vida em que um pequeno ser tinha notado sua presença, de igual para igual.  Sentiu-se humano novamente e amou, amou profundamente aquela criança que dificilmente iria ver novamente.


Primeiro fui secretária executiva.
Em Pedagogia e Letras me formei,
como esposa e mãe fui primitiva.
Mas... foi na pós-graduação da PUC que sonhei.

O cheiro do jasmim e do tomilho,
Florbela Espanca me mostrou.
Seus versos como um grão de milho...
em rendas e bordados transformou.

Hoje, sou diretora de escola,
a  trabalhar  a inocência e a esperança.
Para o cargo não dou a menor bola,
quero apenas resgatar a magia da criança.

Tenho em Deus o meu norte,
que acalma o meu coração,
que me inspira e me torna forte.
É o sal que tempera a minha emoção.
 

Iracema Goor

3 comentários:

  1. Que biografia mais linda. Amei! Tinha que ser minha amiga mesmo.

    Um abraço!!

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  2. Ah sim Marli...
    Você viu que menina esperta e criativa,
    biogafia poética... muito bacana né.

    Iracema

    Obrigado pelo e-mail que me enviou
    não tem ideia do quanto vocês me fazem bem.
    Muitas vezes desanimo, mas... é graças a
    pessoas como vocês, e você, que tomo novo
    folego. Muito obrigado... acredito que
    vocês me fazem mais bem do que eu a vocês.

    Vamos esperar os próximos textos...
    este espaço é nosso, querida.

    Beijo carinhoso

    Flávio Mello

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  3. Foi num consultório médico, enquanto aguardava minha esposa, que me surpreendi e me emocionei com essa biografia.

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