sábado, 4 de junho de 2011

CACOS DE UMA VIDA INÚTIL


Flávio Mello
Qual será a real diferença entre a bunda de uma mulher e o resto da vida, não por que quando eu caminho fico olhando para elas, nesse momento a vida se esvai no ato, e as mulheres se tornam porta-bundas, apenas isso, ele pensa, ignoto como é, ao descer do ônibus e caminhar pela praça em direção à Radial Leste, trajeto arbóreo e compassado de todo santo dia.
CACOS DE UMA VIDA INÚTIL
ou tanto faz
Chove muito...
O metrô lhe parece algo surreal, não compreende o dispositivo, nem tenta, para ele tanto faz, utiliza-o muito pouco, assim como os hospitais e os bancos, odeia ambos, como odeia fila e a espera nos bancos em corredores sujos, longínquos que cheiram a infecção. Pensa nisso enquanto acomoda o aparelho de MP3 no bolso de moedas da calça, Engraçado, esse bolso, será que alguém o usa, se pergunta, metafisicamente, tanto faz, continua seu caminho. Passa pelos mesmos transeuntes, talvez só os carros não sejam os mesmos, na banca de jornal as revistas de putaria em evidência, Será que esses caras só vendes esse lixo, as de fofoca também têm destaque, alguém na novela ficará pobre e será pego traindo a protagonista, Eu queria ser como o Zé Mayer, de presença, a mulherada deve ficar toda serelepe com o cara, é, ser Zé Mayer deve ser bacana, beijar a morena da novela, qual é mesmo o nome dela..., ah tanto faz.
Uma moça de capa segue o mesmo caminho, mais atrás, sem guarda-chuva, pensa em oferecer-lhe o seu, ou caminharem juntos, mas esses dias de serial killer por ai é foda, ela se assustaria, nem todo mundo é dado a gentileza nesse inferno em que vivemos. Ao entrar no corredor do metrô percebe que não havia fechado o guarda-chuva e um imbecil fica rindo dele, um riso apodrecido, pobre de pessoas ignorantes, daqueles que passam as noites em casa vendo Superpop ou Pânico na TV, ou pior, Gugu, Ele mudou de emissora, eu acho, tanto faz, idiota. Fecha o guarda-chuva e com o olhar diz ao cidadão, Vai tomar no cu.
Uma senhora lhe estende a mão, pede esmolas, não gosta do que vê, mas se acostumou, antes quando era mais sensível chorava ao ver mendigos, pedintes, cegos ou aleijados pelas ruas, se lembra de uma vez em que uma família procurava restos de carne em um caminhão que recolhe os ossos nos açougues, passou o resto do dia chorando, na época era digitador de uma empresa de válvulas em São Bernardo do Campo. Hoje não, só criança consegue arrancar dinheiro dele, ou seja, continua sensível e menos idiota.
Outra bunda passa por ele, muito linda, não pode dizer o mesmo do suporte dela, mas é a vida, a mulher que passou não pode ter tudo o que quer, uma bunda linda daquelas e ainda ser maravilhosamente linda, complicado. O MP3 muda de música, ele nem percebe, o fone de ouvido já é parte de seu corpo, a música é apenas estado de fuga, odeia ouvir as conversas das pessoas, todas medíocres e inacabadas. A vida poderia ser menos nociva, veja bem leitor, a persona em questão não é amarga, apenas não anda na melhor fase de sua vida, está no limite, esperando a gota d’água para transbordar ou rebentar o dique.
Pensa em uma moça que há muito não encontra, a vida não anda fácil para ele, quer um refugio, mas falta coragem, em sua vida mulheres se despregam do andor da pureza e mostram suas garras vermelhas e o odor de luxúria, mas ele tenta, tenta manter-se fiel ao casamento, que tanto faz para ele nessa altura.
A vida é mesmo um aquário onde nós os homens somos os polvos molengas e sem cor, as mulheres peixinhos coloridos, o tempo uma moreia, o mundo se prende nas paredes transparentes do existir e as complicações, as dores, os amores, a ração medíocre que recebemos de Deus. Bela merda de vida, pensa ele olhando o céu que não para de suar. Na verdade a vida é uma matemática, como ele é, sempre foi, terrível nessa área... sofre as consequências de não entender a tabuada.
22h 30

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