sábado, 4 de junho de 2011

Campanha de Aleitamento Materno:

“Aonde come um, comem dois”
Atividade 2

Maria Souza


Foto: “Índia amamenta filhote de porco do mato” [1]

           O famoso publicitário carioca, Naim, passaria um período das suas férias no Estado do Maranhão. Tinha a fotografia como hobby. De antemão, sabia que no retorno ao trabalho, seria o responsável por uma campanha com “perfil agressivo” para incentivar o aleitamento materno. A campanha foi solicitada por um órgão de saúde do Rio de Janeiro após verificar o aumento das despesas com essas crianças.           
            Chegando ao noroeste do Maranhão, só restava ao aprendiz de fotografia desbravar a região, registrar a fauna e flora local e a conhecer os costumes da tribo dos Guajás [2]. Alguns dias depois, se assustou ao ouvir um grunhido vindo das folhagens. Seria algum animal predador? Trêmulo, tentou se esconder, mas estarrecido presenciou uma cena que mudaria sua vida. Três personagens locais: uma índia, levemente inclinada, segurava seu filho no lado esquerdo e à direita, em pé, um porquinho do mato sugava o seio da “mãe adotiva e caridosa”. Arranjou força para tentar uma aproximação. A índia Taynah entendia a linguagens dos brancos e disse que tinha leite suficiente para seu filho Irapuru (indiozinho mestiço) e também para Baby, seu porquinho companheiro de caminhada pela mata.
            Com a esperteza de uma raposa e a sagacidade de um excelente profissional, explicou à índia qual era sua profissão. Com um lampejo de coragem, perguntou se a Funai intermediasse, ela aceitaria a sagrada missão (enviada pelos pajés) de representar uma campanha de amamentação nacional. O retorno desesperado de Naim à hospedaria e a breve e agitada ligação telefônica para o RJ eram indícios do fim antecipado das férias do publicitário e da resposta afirmativa da índia.
            Quando o representante da Funai, o porquinho Baby e Taynah mais Irapuru (ambos vestidos a caráter) andavam pelas ruas do Rio, causavam o mesmo espanto e paralisação de uma famosa personalidade internacional em visita ao Brasil. A reação da população carioca ao vê-los era um misto de riso, incredulidade e admiração pela originalidade. Em contrapartida, os indígenas não acostumavam com o luxo do hotel e sentiam-se dentro de uma nave espacial. Na rua, Taynah e Irapuru viam os pedestres como marcianos. Nunca viram pessoas tão estranhas e alienadas da proteção espiritual e da mãe natureza.
            Em poucos dias, a campanha educativa de Naim foi para os veículos de comunicação. Todos duvidavam do êxito dessa publicidade e não tinham idéia da reação do público almejado. A imagem de Taynah, Irapuru e do Baby estava acompanhada dos seguintes dizeres:
Vocês sabem qual é a diferença entre o mamão de corda e 500 gramas de silicone? Os dois não escapam da lei da gravidade, porém o segundo, antes da queda, pode sofrer uma enorme explosão, até maior que a da Bolsa de Nova Iorque. Por isso, não importa se a “fonte” é natural ou superficial, a queda será inevitável. Em alguns casos, pode-se até acionar o seguro por lesão ao consumidor pela venda de mercadoria danificada. Então, nada justifica você negar ao seu filho o direito à amamentação.

            A profecia se realizou com uma repercussão estrondosa, rumo ao abismo. Para a elite feminina brasileira, adeptas do corpo perfeito, foi uma ofensa e o ápice do desprezo serem comparadas a uma raça primitiva, marginalizada e em extinção. Pediram retaliação e receberam apoio dos cirurgiões, preocupados com a brusca queda das operações estéticas.
            Os religiosos apelaram para o atentado ao pudor. Pela idade do indiozinho Irapuru, era impossível ter leite suficiente naqueles seios, apesar de volumosos, para duas crias/espécies tão distintas, mas era sim, um simples ato de orgia para saciar a sede sexual da índia Taynah.
            A massa da população ficou dividida. Uns consideravam uma prova de amor incondicional e sem fronteiras de uma mãe. Para outros, era como um ato sexual de zoofilia, ou seja, apenas um prazer sexual no contato com animais.
            Foi o triste fim de um profissional tão competente em que a vaidade desmedida não considerou o côncavo e o convexo de uma sociedade que impõe seus valores, mesmo que camuflados por máscaras que insistem em cair e todos fingem não ver.


[1] 20.dez.1992. "Índia amamenta filhote de porco do mato", de Pisco Del Gaiso. Foto flagrou índia da tribo Guajás, no Maranhão, amamentando filhote de porco do mato criado na aldeia. Venceu Prêmio Internacional Rei da Espanha. Fonte: Folha 19/02/2011.
visitado em 28/04/2011
[2] As mulheres dessa tribo também cuidam dos animais de estimação, muito numerosos na tribo, e eles, muitas vezes, são até amamentados pelas mulheres mais jovens. http://guaja.tripod.com/id2.html, visitado em 28/04/2011

Um comentário:

  1. A foto dessa índia é bem antiga. Se a memória
    não me falha, tinha em um livro que estudei no E.F na década de 80..rsrs Abraços.

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